terça-feira, 31 de março de 2009

Entrega da versão beta do 1º filme



Hoje foi dia de entregar a versão beta do 1º filme.

Esta versão foi entregue com fundo negro, que na versão alfa será substituído por algo mais dinâmico, como um ciclo de maré ou uma filmagem da zona de rebentação, de cima para baixo.

Mantendo a ideia de que quem visita no Museu deverá ter a sensação de um dia a passar, a este filme corresponde as 8 da manhã.

Quer isto dizer que o ideal será filmar a zona da rebentação no calhau por volta dessa hora e usar esse filme como fundo para a sequência de fotos que contam a história da caça à baleia.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Complicar o complicado

Os jogos são feitos de regras e as regras nem por isso espartilham a criatividade ou objectividade. As regras tornam as coisas mais interessantes e mais difíceis.

Uma altura resolvi comprar um presente de aniversário para mim mesmo e calhou ser o Ulisses, de James Joyce. Por coincidência, o livro passa-se todo no meu dia de anos.

Mas não é sobre coincidências que pretendo escrever (existem?), mas sobre a estrutura do Ulisses.

O livro segue ao longo de um dia e cada capítulo tem uma hora, uma cor e até vai seguindo um paralelismo com a Odisseia de Homero.

Bom, siga-se Joyce: cada filme terá uma hora do dia, uma cor. Quando digo isto, por vezes até posso vir a ser literal, na maioria das vezes não, até porque o efeito desta imposição de regras não pode perturbar o objectivo do filme, tem que ser forçosamente subtil e de alguma forma enriquecer o filme.

Um desafio maior seria seguir uma obra prima também. Em vez de um livro, proponho-me seguir o que considero ser o mais inspirado album de sempre, Hounds of Love, da Kate Bush. Quando digo seguir, não vou usar as músicas como banda sonora, vou só de lá retirar ideias e emoções.

Fazer corresponder o produto 1 com a 1ª música do album é directo. O album abre assim:

It doesn't hurt me
Do you want to feel how it feels
Do you want to know, know that it doesn't hurt me
Do you want to hear about the deal I'm making

You
It's you and me
And if I only could

I'd make a deal with God
And I'd get him to swap our places


Que há mais a dizer depois disto? Isto nada mais é do que a voz das baleias. Há ali simultaneamente um perdão e um apelo à empatia e compreensão do outro lado.

E como não há coincidências, vou acreditar que o album me vai indicar o caminho ao longo destes 11 filmes. Mais ainda, a 1ª música do 1º album da Kate Bush, abre com o som de baleias. No Hounds of Love, há também sons de baleias, mas em dose mais homeopática, na 6ª e na 11ª faixa.

Já uma altura eu tinha experimentado colocar a música Brazil, também pela Kate Bush, numa pequena cena que tinha feito com um casal de orcas. O sincronismo do movimento das baleias foi de tal forma perfeito até aos ínfimos detalhes logo à 1ª tentativa, que eu sabia que tinha que terminar o videoclip para a música toda.

Por acaso esse vídeo clip até foi um passo importante para conseguir estar actualmente a desenvolver este conjunto de 11 filmes.


Killer pas de deux from Light Search on Vimeo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Coesão


Encontrei esta imagem e gostava de lhe dar os devidos créditos, mas não sei quem é o autor. Há ali um problema na interpretação da profundidade da água, mas mesmo assim está fabulosa.

Aproveitando que as coisas estão a arrancar e que esta é a melhor altura para ter uma visão abrangente do projecto, vou dedicar este post à coesão entre filmes.

Este projecto inclui 11 filmes sobre baleias e sobre os homens que as caçavam. Muito facilmente isto se torna uma manta de retalhos.

É daquelas coisas... se isso acontecer, ninguém se vai queixar, mas se não acontecer fica muito melhor.

Também é verdade que a maioria dos museus não se preocupa a fundo com isto. No máximo, agrupam o que há para ver e colocam na sequência mais lógica.

Mas isto são filmes. Estilisticamente podem sair muito diferentes, logo à partida porque as temáticas por vezes não têm nada a ver umas com as outras. Mais ainda, alguns filmes são históricos, outros documentais, uns científicos, outros fábulas e outros aventuras (pra não falar de um que nem filme é, é uma aplicação interactiva 3D estereoscópica que me mete um medo de todo o tamanho).

Há também a tentação da minha parte de, após terminar um filme, ter vontade de fazer algo o mais diferente possível.

Vai daí, em primeiro lugar, comecei a pensar formas de integrar os filmes todos que obriguem a um mínimo de alterações de guião. Eu disse “comecei”, mas na realidade estou a pensar no assunto pela primeira vez agora.

Não há muito a fazer no que respeita à cor. Os filmes têm todos um estilo realista e o máximo que se pode fazer é “alindar” ligeiramente as coisas.

A locução... a primeira tentação seria ter um só locutor para cada língua (e todos os filmes têm que estar disponíveis em 5 línguas disponíveis). Mas penso que se forem usadas uma voz masculina e uma voz feminina “bem acasaladas”, não se perturba a coesão e permite aliviar um pouco a carga de autismo que uma visita ao museu tem. Uns filmes podem ter um locutor, outros podem ter os dois. Andar um par de horas de headphones nos ouvidos a ouvir duas pessoas é uma experiência menos solitária do que a ouvir só uma.

A banda sonora tem aqui um papel enorme, apesar da sua importância ser normalmente subvalorizada pelo público e até por boa parte dos realizadores. A música pode funcionar como um elemento que liga os filmes mas, sendo assunto que dá pano para mangas, uma vez que até é feita à medida para se ajustar a cada curva do filme, vou falar no assunto mais detalhadamente noutro post.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Animais


Ao voltar para casa, a minha cadela viu um gato. Arrancou sem ladrar em direcção a ele e o gato fugiu no meio do escuro.

Lembrei-me então que ela já matou um gato. E fez-se luz. Quer dizer, não descobri nada novo, mas lembrei-me de algo: não há nada mais artificial do que o próprio conceito de artificial.

Mais precisamente, nós definimos uma fronteira: Nós os humanos e eles os animais e isto é uma forma muito redutora de olhar para nós mesmos e para o mundo.

Onde é que eu quero chegar com esta ladainha toda? À solução para a forma como devo encarar estes primeiros filmes que lidam com a caça à baleia.

Vou encarar o homem como parte da natureza. E quando homens caçam baleias, vou julgá-los como julgo um animal que preda outro. Esse vai ser o meu limite.

Há concerteza outras forma de abordar o assunto da caça à baleia. A minha desculpa para contornar o assunto, com o qual não consigo encontrar uma forma pacífica de lidar, é que há qualquer coisa de poético, universalista e reconciliador em considerar um homem como um animal qualquer.

Alguém poderá achar isto insultuoso, mas não é de todo a minha intenção.


(foto de Gregory Colbert)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Filme 01 - As técnicas

Pelo que soube, afinal parece que não havia pena nenhuma pelas baleias. Havia a emoção da caça e não é pelo tamanho do animal que se chega aos terrenos da empatia.

Hoje num programa de televisão a apresentadora comentou como piada que "era como quando se põe uma lagosta em água ferver, faz uns barulhos como se estivesse a gritar". Eu sempre tinha achado muita piada a esta apresentadora... mas acabou-se. Quando ela disse aquilo, eu sabia que tinha estragado tudo. Perdoar crueldade para com animais, é coisa que está para além daquilo que eu tenha conseguido alguma vez fazer.

Vamos lá ver se acho maneira de lidar com o assunto.

Num filme há várias vozes: a imagem, a narração e a música são as principais para mim.

Este filme não tem narração e é o primeiro filme no percurso pelo museu. Tem fotos a preto e branco e fotos a cores e não me parece que seja boa ideia converter as fotos a cores para preto e branco. Nalgumas fotos a cores há sangue na água e no ar, que jorra pelo espiráculo dos animais feridos.


Estas fotos a preto e branco catadas na net até se aguentam em cima do calhau. Acho que as fotos a cores também se vão aguentar.

As imagens contam a sua história e a música emociona-se com isso. Emociona-se de diversas formas e nem tem que se optar por uma delas: pode ter a excitação da caça, pode ter o perigo e pode ter a dor, umas vezes em sequência, outras vezes em simultâneo. E a música vai se lembrar que este filme é só uma abertura.

A pesca era um trabalho muito mais incerto do que a caça à baleia e por isso a caça à baleia deixou saudades nesta terra.


Mais de 90% dos animais caçados eram cachalotes. Não afundavam nem eram tão rápidos como as baleias de barbas. A baleia franca (uma das minhas favoritas) era lenta, mas era rara devido a ter sido praticamente levada à extinção no séc. XIX.



Os cachalotes têm também um comportamento que ajudou os baleeiros: quando um membro do grupo é atacado, todos os animais se reúnem em volta dele. Desta forma os baleeiros conseguiam caçar um grupo inteiro de uma vez.

A partir de certa altura, começaram a deixar os animais jovens ir embora. Davam praticamente tanto trabalho como os grandes e o rendimento era muito mais pequeno.

Quando o canhão apareceu com o intuito de apanhar as baleias com barbas que por aqui passavam, nem por isso as coisas melhoraram, a embarcação não era rápida o suficiente para seguir as baleias.

Consta também que o homem que disparava tinha má pontaria. Não só não acertava nos animais, como afugentava os homens que andavam nas baleeiras, que tinham medo da pontaria do colega. É sempre bom lembrar que o arpão tinha uma cabeça explosiva.

Inicialmente os homens aproximavam-se de forma furtiva das baleias, com remos e vela. Isto tinha algumas desvantagens. Os homens cansavam-se e uma vez que o arpoador também remava, quando ia atirar o arpão ou usar a lança, era pouco eficaz.

A técnica que foi usada com mais sucesso, surgiu com a motorização das baleeiras: o cerco. As baleeiras afugentavam os animais para águas pouco profundas com o ruído dos motores e as baleias eram mortas já junto à costa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Filme 01 - Dor e empatia


Lá fora, mata-se um porco. Já ouço os grunhidos há bastante tempo e nem o som da televisão os abafa.

A dor foi inventada nos primórdios do processo de evolução. A quantidade de dor que já houve, que há e que está para vir, só permite que nos preocupemos com a nossa própria dor, ou quanto muito, com a dor que está mais próxima de nós no espaço e no tempo.

Tudo depende da distância a que se vê as coisas. Uma batalha entre dois exércitos se for vista de longe, do cimo de um monte, pode ser facilmente uma experiência esteticamente apelativa, tal como o efeito do napalm visto de um avião. Se nos afastarmos ainda mais e nos pusermos a uma distância da Terra suficiente para a fazermos desaparecer só com uma mão em frente, até deixamos de ver o que se passa (e nem precisamos de colocar a mão em frente).

Os barcos entram na água, os homens remam em direcção ao local onde foram avistadas as baleias, mais tarde simplesmente ligarão os motores, lançam os primeiros arpões, mais tarde dispararão um canhão.

O sentimento que prevalece aqui é também muito antigo: a excitação da caça e do perigo para a própria vida.

Sentimento mais recente pode ser o sentimento de fazer algo em grupo.

Sentimentos ainda mais recentes poderiam ter sido o de compaixão pelo sofrimento do animal que sangra durante horas enquanto é picado até à morte. Mas não devem ter havido... ou se calhar também coexistiram no meio do outro turbilhão de emoções. Ainda vou tentar descobrir.

O tamanho importa e a compaixão que nós sentimos pelo sofrimento de outro ser é afectada pelo tamanho dele. Não se sente o mesmo ao assistir à morte de um peixe de 5 cms, de 50cms, de um golfinho de metro e vinte ou de uma baleia com quase 20 metros. Mas não fica por aqui, claro.

Tem tudo a ver com a empatia, com a semelhança. Ainda por trás disto tudo está a cultura e educação.

Custa-me não tabelar de hipócrita ou no mínimo inconsciente esta protecção e preocupação com baleias. As baleias ao menos vivem toda a sua vida no seu meio. 99% dos animais que são criados especificamente para alimentação têm a vida mais desgraçada que se pode conceber e lá por a sua morte não incluir normalmente umas horas de sofrimento, toda a vida deles é sofrimento constante.

O porco já se calou e eu também por agora.

Filme 01 - “Caça à baleia - evolução das técnicas”



Ora aqui está um excelente tema para mim, que viro costas se vejo alguém à pesca.

Este filme é de longe o filme tecnicamente mais simples de todos, uma vez que consistirá na exibição de um conjunto de fotos:

Sequência de fotografias e excertos de vídeos para ilustrar os principais métodos de caça à baleia utilizados no arquipélago da Madeira a partir de baleeiras artesanais. A baleação com botes à vela e a remos versus a baleação com botes a motor.

Assim dito, a minha ideia é filmar o calhau junto à zona da rebentação para servir como fundo. É a zona em que o mar e a terra se misturam, o mundo das baleias e o mundo dos homens.

Por cima coloco as fotos e excertos de vídeos.

Para dar uma ideia da passagem do tempo e compartimentar cada época, ocorrem-me para já 3 opções:

- A óbvia, que será filmar a rebentação no calhau desde o amanhecer até ao anoitecer;
- Mostrar o ciclo da maré de vazia a cheia e novamente a vazia. Neste caso até seria mais interessante filmar as poças em frente ao próprio Museu;
- Filmar o calhau cada vez mais próximo ou cada vez mais longe.

Sendo que este conjunto de filmes ficará em exibição no Museu da Baleia na Vila do Caniçal, seria interessante enquadrar a história das técnicas à baleia na própria história da vila. O Caniçal só teve acesso rodoviário ao resto da ilha a partir dos anos 60, de certa forma era uma ilha dentro da ilha.

Penso que isto se pode fazer numa dúzia de segundos. Mostrar o que era a vila antes da caça à baleia, ir ao assunto das técnicas de caça propriamente ditas e mostrar o Caniçal após o fim da caça no início dos anos 80.

Escusado será dizer que o que vai neste blog é pessoal e não institucional: são somente os meus pensamentos que por aqui andam e não reflecte posições oficiais de nenhuma instituição. É só uma forma de me ajudar manter a cabeça à tona de um ponto de vista criativo e pragmático.